Empresa que 'troca' escaneamento de íris por dinheiro pausa atividade no Brasil

A Tools for Humanity, companhia responsável pelo polêmico projeto de verificação de identidade World ID, parou temporariamente de oferecer os serviços no Brasil. A confirmação é da própria companhia, após uma decisão da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) sobre o escaneamento da íris de voluntários em troca de criptomoedas.

Responsável por fiscalizar o cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e outras questões de privacidade no país, a ANPD negou um recurso da companhia para manter a World funcionando em caráter temporário. O órgão considera irregular o oferecimento de qualquer compensação financeira envolvendo a coleta de dados pessoais.

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De acordo com a decisão, a  World ID pediu 45 dias para "implementar mudanças no aplicativo e interromper a oferta de compensação financeira". A ANPD entende que essa alteração, porém, poderia ser feita de forma mais imediata até que o aplicativo seja devidamente ajustado.

Responsável pelo primeiro dos votos do Conselho Diretor, a relatora Miriam Wimmer considera que a atividade configura "uma interferência indevida na livre manifestação de vontade dos titulares de dados", além do pagamento oferecido em troca ser "um fator determinante para autorizar a coleta de sua íris", sem que a pessoa pense em "riscos envolvidos e a própria finalidade da coleta".

O que diz a empresa

Agora, a World terá que apresentar uma declaração oficial e assinada confirmando a suspensão dos cadastros e pagamentos. Em nota enviada ao G1, a companhia diz respeitar a decisão da ANPD e explica que os espaços físicos antes usados para coleta da íris dos participantes ficarão abertos para "fornecer educação e informações ao público".

"Pedimos desculpas por qualquer inconveniente aos que desejavam se juntar à World agora. (...) A World segue seu compromisso em cumprir com as leis nos mercados onde opera e continuará trabalhando para garantir transparência e entendimento público desse serviço essencial", diz o comunicado.

O que é o projeto World ID

Presente no país de forma oficial desde novembro de 2024 com espaços físicos em São Paulo, o projeto World ID tem como fundador Sam Altman, o CEO da OpenAI, dona do ChatGPT.

A ideia da empreitada é escanear a íris do maior número possível de pessoas e gerar uma espécie de passaporte digital para autenticação de identidade e login em serviços, além de ser uma espécie de banco digital via aplicativo. Em troca, o pagamento pela participação é a Worldcoin, um token digital nativo criado pela companhia.

Atualmente, a companhia registrou mais de 11 milhões de "humanos únicos" em cerca de 160 países. O aplicativo que serve para concentrar credenciais dos participantes já foi lançado para dispositivos móveis.